[...] Via os grandes navios que partiam as grandes chatas,
sempre em movimento, as pequenas barcas que flutuavam lá embaixo: contemplava
ao longe o esplendor brumoso do mar e a esperança de uma vida febril num mundo
de aventuras. Deixava-se ficar, às vezes, no convés, para viver em sonhos,
adiantadamente, no bruhaha babélico de duzentas vozes, a vida marítima dos
livros infantis. Via-se a si próprio arrebatando homens a um navio que se
afunda, abatendo mastros na tempestade, carregando a nado um salvado através da
ressaca; ou então, náufrago solitário, descalço e seminu, caminhava pelas
rochas descobertas, em busca de mariscos para apaziguar a fome. Encontrava
selvagens em terras tropicais, reprimia motins em alto mar, e sustentava, numa
pequena embarcação perdida no oceano, o coração desesperado de seus
companheiros; eterno exemplo de apego ao dever, ele permanecia inabalável como
um herói de romance. [...]” Lord Jim
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